domingo, 7 de abril de 2013

Dentro de um abraço

Como ainda estou lendo os livros, e só vou postar resenhas depois, vou pelo menos colocar uma das minhas crônicas favoritas do que estou lendo agora, que é o Feliz por Nada (super recomendo ele).

Dentro de um abraço
Onde é que você gostaria de estar agora, nesse exato momento?
    Fico pensando nos lugares paradisíacos onde já estive, e que não me custaria nada reprisar: num determinado restaurante de uma ilha grega, em diversas praias do Brasil e do mundo, na casa de bons amigos, em algum vilarejo europeu, numa estrada bela e vazia, no meio de um show espetacular, numa sala de cinema assistindo à estreia de um filme muito esperado e, principalmente, no meu quarto e na minha cama, que nenhum hotel cinco estrelas consegue superar - a intimidade da gente é irreproduzível.
    Posso também listar os lugares onde não gostaria de estar: num leito de hospital, numa fila de banco, numa reunião de condomínio, presa num elevador, em meio a um trânsito congestionado, numa cadeira de dentista.
    E então? Somando os prós e os contras, as boas e as más opções, onde, afinal, é o melhor lugar do mundo?
    Meu palpite: dentro de um abraço.
    Que lugar melhor para uma criança, para  um idoso, parar uma mulher apaixonada, para um adolescente com medo, para um doente, parar alguém solitário? Dentro de um abraço é sempre quente, é sempre seguro. Dentro de um abraço não se ouve o tic-tac dos relógios e, se faltar luz, tanto melhor. Tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço se dissolve.
   Que lugar melhor para um recém-nascido, para um recém chegado, para um recém-demitido, para um recém-contratado? Dentro de um abraço, nenhuma situação é incerta, o futuro não amedronta, estacionamos confortavelmente em meio ao paraíso.
   O rosto contra o peito de quem te abraça, as batidas do coração dele e as suas, o silêncio sempre se faz durante esse envolvimento físico: não há nada pra se reivindicar ou agradecer, dentro de um abraço voz nenhuma se faz necessária, está tudo dito.
   Que lugar no mundo é melhor pra se estar? Na frente de uma lareira com um livro estupendo, em meio a um estádio lotado vendo seu time golear, num almoço de família onde todos estão se divertindo, num final de tarde à beira-mar, deitado num parque olhando para o céu, na cama com a pessoa que você mais ama?
   Difícil  bater essa última alternativa, mas onde começa o amor, senão dentro do primeiro abraço? Alguns o consideram como algo sufocante, querem logo se desvencilhar dele. Até entendo que há momentos que é preciso estar fora de alcance, livre de qualquer tentáculo. Esse desejo de se manter solto é legítimo, mas hoje  me permita não endossar manifestações de alforria. Entrando na semana do namorados, recomendo fazer uma reserva num local aconchegante e naturalmente aquecido: dentro de um abraço que te baste.
                  12 de junho de 2008
Martha  Medeiros

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